Manejo regenerativo em sistema agroflorestal no bioma caatinga.

Manejos inadequados no bioma caatinga estão provocando profundos processos de degradação ambiental. As queimadas empobrecem o solo, destruindo os nutrientes e a vida contida nele. Uso de tratores em regiões de declive favorecem a formação de enormes voçorocas e posteriormente desertificação. Em períodos de seca prolongada os sertanejos costumam queimar os mandacarus encontrados na natureza para servir de alimento para os animais, mas raramente fazem o plantio dessa espécie.  São muitas as práticas que promovem degradação do solo, redução das variedades da fauna e da flora, desertificação e miséria social. 

Imagens obtidas em pesquisa no Google.

A área em que foi criada a  agrofloresta paêbirú possuía uma enorme ravina e em poucos anos nós conseguimos reverter a situação usando recursos locais. Galhos, folhas, pedras, plantas foram de forma ordenada e planejada inseridos(as) no projeto de regeneração do espaço degradado.  

Com as pedras criamos barreiras para conter a força da água e segurar o solo. Galhos e folhas foram postos no local para promoverem a regeneração do solo e oferecerem condições para o nascimento de plantas endêmicas. Plantamos babosas e palmas para criar mais matéria orgânica. 

A favor da regeneração do solo, galhos e arbustos que estavam próximos dos umbuzeiros foram retirados e toda a matéria orgânica deste manejo foi posta na base deles. 

Outrora, a área onde hoje está localizado o SAF 2 estava com pouquíssima cobertura vegetal. Plantamos palma e passamos a podá-las gradativamente, despejando todo o material no solo. Houve regeneração e esse processo está permitindo o desenvolvimento de plantas endêmicas. Umbuzeiros, catingueiras, aroeiras, angicos, entre outras estão nascendo. 

 

 

Coleta de umbu/imbu em sistema agroflorestal.

A agrofloresta paêbirú assim como qualquer sistema agroflorestal, é policultura, mas a cultura agrícola mais promissora é a do umbu/imbu. 

Spondias tuberosa é uma árvore endêmica do bioma caatinga e dela podemos usar como alimento, as folhas, as batatas e os frutos. Porém, raramente vemos ela ser plantada, mas no SAF, existem muitos umbuzeiros adultos e outros novos que foram plantados a partir de sementes. 

Hoje reunimos a família para coletar umbus e fazermos a deliciosa umbuzada. Bebida comum na região nordeste que tem como ingredientes, umbu, leite, água e açúcar. 

 

Agrofloresta paêbirú tem reserva de água garantida.

Até o presente momento foram duas precipitações, mas foram suficientes para assegurar regas  na agrofloresta  até o outono, quando as chuvas costumam vir com mais frequência nessa região. Agora temos água nos dois tanques e na cisterna. Situação satisfatória para nós, que estávamos com reserva apenas para o final de março. 

 Momento satisfatório também para as culturas não regadas, como a do mandacaru, da palma, do umbuzeiro. A cerva viva é uma meta muito importante no SAF, para evitarmos no futuro a compra de arame farpado e a derrubada de árvores para fazer estacas. Os frutos dos umbuzeiros com as chuvas ficarão maiores que o convencional.

Vídeo atualizado do SAF.

Cultivo de abóbora em sistema agroflorestal.

A abóbora ou jerimum( Cucurbita moschata) é uma planta endêmica da América do Sul. Seu cultivo em todos os continentes, com exceção da Antártida se deve a facilidade que os agricultores tem no  manejo com esse vegetal.

Na região nordeste sua produção é disseminada e garante aos produtores rurais, em especial os da agricultura familiar, renda extra e alimento para os períodos de estiagem, pois ela pode ser armazenada por meses sem estragarem. 

Outra aspecto importante na cultura da abóbora é que não se faz necessário o uso de nenhum tipo de defensivos agrícolas.

Essas abóboras estão sendo colhidas no mês de março, bastou plantarmos as sementes no fluxo de água do banho.

 

 

 

Precipitações favorecendo produção de frutas no bioma caatinga.

Devido as precipitações que começaram no dia 31 de dezembro de 2019 e persistem ocasionalmente até o início de fevereiro de 2020, o sistema agroflorestal Paêbirú garantiu as safras de acerola, seriguela e umbu/imbu antes da estação chuvosa desta região, que costuma ocorrer entre junho e agosto. 

Outro aspecto favorável promovido pelas precipitações de verão, foi o fortalecimento da cerca viva do SAF, que possui mandacaru, facheiro, xique xique e umburana/imburana. As plantas estão vigorosas e crescendo.

Os umbuzeiros/imbuzeiros plantados no SAF estão reagindo bem e cresceram bastante.

Aprender a conviver com a seca no bioma caatinga.

A agrofloresta paêbirú está localizada no município de Gararu/ Sergipe, que faz parte do bioma caatinga, onde o regime de chuvas é marcado pela escassez e há uma acentuada irregularidade espaço-temporal com longos períodos de estiagem e a maior parte da precipitação, geralmente, ocorre em três meses, com média anual inferior a 800 mm. Essas características resultam na ocorrência frequente de dias sem chuvas, ou seja, veranicos, e, consequentemente, em eventos de seca. Essa oscilação pluviométrica está associada a variações de padrões de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) sobre os oceanos tropicais, os quais afetam a posição e a intensidade da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) sobre o Oceano Atlântico, assim como às anomalias de temperatura observadas no Oceano Pacífico, que resultam em anos com La Niña e/ou El Niño.

 Seca entre 2012 e 2016 e atualmente.

Os primeiros manejos do sistema agroflorestal ocorreram em 2009. Demarcamos o local onde seria construída a sede, catalogamos alguns umbuzeiros, manejamos um espaço para o plantio de algumas frutíferas e fizemos o cercamento do SAF 1. Mas o projeto ficou em latência e só retomamos  as atividades em 2012, desta vez sem interrupções. 

Na retomada em 2012,  iniciou-se uma das secas mais severas dos últimos 50 anos na região nordeste, foram 5 anos sem inverno chuvoso e as culturas que pensávamos produzir (milho, feijão, abóbora, melancia, quiabo, tomate) era impossível nessa situação sem um sistema de irrigação. Algumas espécies que plantamos não resistiram as elevadas temperaturas e falta de água.  Nesse cenário extremo a serigueleira, o pé de pinha (fruta do conde), o cajazeiro, o tamarindeiro. a aceroleira, o dendezeiro, a jabuticabeira, a romãzeira, a moringa oleífera, o maxixeiro, dentre outras, com regadas esporádicas resistiram. Palma santa e pitaya são extremamente adaptadas ao bioma caatinga.

Percebemos que era crucial valorizarmos as endêmicas, e plantamos umbuzeiros, maracujá da caatinga, mandacaru, xique xique, rabo de raposa( chifre de bode), uva do mato(Cissus simsiana) …

Sem chuvas, plantamos babosa, mandacaru e palma para gerar biomassa para o solo,  inserimos  endêmicas  que não existiam no SAF, dentre elas a barriguda, ou paineira-branca (Ceiba glaziovii) e o pau ferro, ou jucá  (Caesalpinia ferrea).

Construímos 3 tanques para receberem água das chuvas e os caminhos feitos com pedras direcionam as águas até eles,  além disso, essas estruturas de pedra evitam a perda de solo e de matéria orgânica.  

A seca foi uma mestra para nós!

Estamos com abóbora, quiabo, tomate, melãozinho,melancia e moringa oleífera, na roça.

Policultura e valorização dos endêmicos em sistema agroflorestal.

A policultura é um método de produção de alimento que valoriza a diversidade e que segue a dinâmica da multiplicidade de entes contida nos biomas. 

 

Os sistemas agroflorestais estão seguindo esse princípio da natureza e na agrofloresta paêbirú não é diferente. Estamos promovendo a diversificação radical do cultivo, da coleta e do consumo de alimentação vegetal.  Além da inserção de culturas agrícolas convencionais, procuramos valorizar cada vez mais a flora endêmica a favor da produção de comida, remédio e em breve o sabão de babosa.

 

Em sistema policultor o agricultor leva para a mesa uma grande variedade de produtos alimentícios, e mesmo que não exista a possibilidade de comercialização em alguns períodos, é vantajoso, visto que o que foi colhido/coletado reduz o gasto com a compra e quebra a relação com a monocultura de larga escala, a mesma promovedora de uma devastadora desestruturação dos ecossistemas.

 

Agrofloresta no bioma caatinga é viável

Após as chuvas ocorridas na semana passada, a agrofloresta paêbirú está oferecendo alimento sem agrotóxicos diariamente. Hoje coletamos acerola, jabuticaba, moringa oleifera, fruto do mandacaru, do quipá  e maxixe. 

Estamos cultivando abóbora, melancia, melãozinho, quiabo e fava. 

Em breve teremos  limão, maracujá da caatinga e romã.

Os resultados alcançados na agrofloresta paêbirú  demostram o quanto é viável sistemas agroflorestais no bioma caatinga. Durante o período chuvoso, o SAF oferece uma grande variedade de alimentos e na época da estiagem temos a safra de umbu e da seriguela e no futuro estaremos coletando na seca cajá e umbucajá. 

 

Além disso, fazemos uso medicinal das plantas endêmicas, estamos projetando a fabricação do sabão de babosa e temos a palma, que além de ser uma forrageira, dá para fazermos “pratos” deliciosos.

 

 

Muita chuva e coleta de frutos no SAF

Após seis dias de chuvas intensas com os tanques armazenando bastante água, as precipitações reduziram, entretanto, o tempo está nublado apresentando esporadicamente chuvas rápidas. Aproveitamos a tarde para coletarmos acerola, moringa oleífera, maxixe e jabuticaba.

Nos berços estão nascendo mais maxixeiros, melancieiras, aboboreiras, quiabeiros e os primeiros frutos da romãzeira surgiram e os do limoeiro estão crescendo.

 

Inverno favorável no SAF

De 2012 até o presente momento, tivemos apenas um inverno favorável, este ocorreu em 2017.  Ano passado tivemos infelizmente outro inverno irregular, mas este ano, até o presente momento, as precipitações estão dentro da regularidade do período quando não ocorrem secas.

Algumas frutíferas iniciaram nova safra. Limão, acerola, jabuticaba, romã.

Estamos coletando moringa e maxixe.

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